Pesquisa de mercado é fundamental para qualquer empresa. Os livros de administração já dizem: antes de começar um negócio ou um projeto, você deve avaliar seu público, entender o que ele está buscando e o que pensa sobre seu produto. Você pode fazer isso com pesquisas de mercado tradicionais, buscando dados em associações e institutos de suporte, saindo à rua para pesquisar uma amostra ou conduzindo focus groups, aqueles grupos de usuários selecionados para serem apresentados a um protótipo de seu produto e serviço e fornecerem seu feedback.
Isso é muito bonito no papel; na vida real, se é complicado para grandes empresas, o que dirá para micro e pequenos empresários, com pouca experiência no assunto e sem orçamento para contratar uma empresa de pesquisas? Não digo que não se deve fazer esse tipo de pesquisa. Pelo contrário, não dá pra lançar um produto ou serviço sem testá-lo, sem ouvir, sem olhar nos olhos dos clientes e sem conhecer os concorrentes.
Porém, de 15 anos pra cá, aconteceu uma grande mudança nas pesquisas de mercado e é claro, ela só poderia ser proporcionada pelo Google. O que é uma pesquisa de mercado senão uma busca pela mente do consumidor? Quando o consumidor tem dúvidas, onde ele vai tirá-las? Em quinze anos de atividade, é natural que o Google tenha um grande volume de informações armazenado. O melhor de tudo é que isso está disponível, de graça, em uma ferramenta chamada Google Trends.
O Google Trends reúne as estatísticas de pesquisa para milhões (bilhões?) de palavras chave buscadas no mecanismo de pesquisa mais popular do mundo desde 2004. Mais do que isso, permite verificar o volume de pesquisa segmentado por país e região, apontando as tendências e trazendo insights muito mais amplos que uma pesquisa de mercado. Por que posso afirmar isso? Dois motivos bem simples:
- as pessoas mentem para os pesquisadores – não porque elas queiram ser mentirosas, mas porque inconscientemente querem agradar o pesquisador, dando as respostas que eles querem ouvir. Se as perguntas não forem bem formuladas ou forem tendenciosas, a pesquisa será contaminada. Mas o Google não sofre desse problema, pois as pessoas não precisam mentir pro Google e ele sabe tudo que nós pesquisamos.
- nenhuma pesquisa consegue atingir todo o público – tecnicamente, uma amostra vai refletir todo o universo mas o Google é praticamente o universo. Pense em quantas pessoas que você conhece que não têm acesso à internet e não usam o Google. Você saberá se pessoas no Acre estão pesquisando por seu produto e qual a comparação em relação a São Paulo.
Então, o melhor ponto de partida para sua pesquisa de mercado é o Google. Comece visitando o site do Google Trends e digitando as palavras que você acredita fazerem parte das buscas de seu público-alvo. Digamos que você quer vender smartphones e tablets: você deve começar com as palavras mais gerais e alguns modelos mais pesquisados e depois estreitar sua busca, com palavras mais técnicas e com variações mais completas, como “smartphone android 4”.
Ao digitar as palavras no campo de busca, você deve separá-las por vírgulas. A ferramenta tem um limite de cinco palavras por vez e você não precisará de mais do que isso por rodada de avaliação. No caso desse post, farei uma pesquisa pelas palavras magento, prestashop, woocommerce, shopify; todas elas referem-se a plataformas de e-commerce e os resultados são esses abaixo. Na primeira tela, temos os resultados para todo o mundo, de 2004 para cá, com as palavras indicadas pelas cores e a origem das pesquisas indicadas logo abaixo do gráfico principal.
O primeiro ponto é entender o que significam essas linhas e esses números. No Google Trends, tudo é relativo, nada é absoluto. Portanto, o número 100 não indica que tenham ocorrido 100 (mil, milhões, bilhões) de pesquisas naquele ponto do gráfico mas sim que ali é o 100%.
O ponto marcado como 100 indica que naquele dia, mês ou ano ocorreu o maior volume de pesquisas em todo o período, ou seja, todo o gráfico será construído com base naquele dia. Digamos que em um determinado mês, uma palavra-chave tenha tido 1 milhão de buscas. Essa palavra-chave e esse dia passam a ser o valor 100. Todos os outros resultados serão calculados em função desse, isto é, 780 mil buscas assumem o valor 78 enquanto 243 mil buscas passam a ser 24.
Os gráficos são flutuantes e vão variar conforme as palavras escolhidas, já que a cada conjunto de palavras e tempo escolhido, um novo número 100 é definido. Você não deve olhar sempre um único gráfico, pois ele lhe dará uma tendência para aquele conjunto de palavras e conforme a escolha, ficará difícil interpretá-lo (experiente pegar palavras com um alto volume de buscas, como ‘roupa’, ‘sapato’, ‘carro’).
Outra coisa a se tomar cuidado é com palavras com diversos significados. Paris pode se referir à cidade-luz, como à sua homônima no interior dos Estados Unidos ou à “sempre metida em encrencas” Paris Hilton. Ok, esse exemplo foi meio forçado mas é para você lembrar de que palavras podem ter significados diversos e diferentes em vários idiomas. A ideia é sempre restringir ao país do público-alvo e por isso, vamos restringir nossa pesquisa ao Brasil.
Se olharmos apenas o Brasil, mantendo nosso jogo de palavras-chave, podemos começar a pensar nas tendências. Estou comparando as buscas de 2004 para cá por plataformas de e-commerce conceituadas no mercado, sendo duas mais antigas (o Magento foi lançado em 2008, assim como o Prestashop) e duas mais recentes (o Woo Commerce é de 2012 e o Shopify ganhou força de dois anos pra cá). Analisando apenas esse gráfico, com esse jogo de palavras, eis as minhas conclusões:
- o Magento era desconhecido no Brasil, mesmo na época de seu lançamento e decolou em 2010, dobrando seu volume de pesquisas; depois disso no entanto, manteve um volume médio estável até
- o interesse pelo Magento diminuiu de 2014 pra cá e não se pode determinar uma tendência pros próximos anos, embora pareça mais acertado afirmar que ele continuará caindo
- ainda assim, o volume de pesquisas pela palavra-chave magento é igual à soma desses três concorrentes
- o Prestashop também demorou a ser conhecido no Brasil, subiu constantemente mas estagnou em um patamar de 40% das buscas pelo Magento
- o Shopify é desconhecido no Brasil e mantém um volume de buscas constante, sem tendência de alteração
- o Woo Commerce (plugin de e-commerce para o WordPress) sobe constantemente desde seu lançamento e ultrapassou as pesquisas pelo Prestashop
- se a tendência estiver correta e se mantiver, em dois anos ele atinge o volume de interesse que o Magento tem hoje
- o volume de pesquisas acumuladas pelo Magento em sete anos (a área do gráfico abaixo da linha azul) dificilmente será superada pelos concorrentes
Então, no cenário atual, a maior demanda continua sendo do Magento, mantendo-se por mais um tempo. Porém, o futuro aponta pro Woo Commerce, que pode cruzar com o Magento antes do tempo, se sua tendência de queda se confirmar. Isso quer dizer que o Magento vai morrer? Não, mas que há um concorrente forte no horizonte e ele dividirá as atenções na escolha pela plataforma.
Lembre-se que isso são percepções e não afirmações. Percebam que essa é a mesma base a ser tomada ao se conduzir uma pesquisa pela recepção de seus produtos e serviços e servem como um ótimo ponto de partida, sem custar absolutamente nada além de seu tempo (é claro, a energia elétrica e a conexão com a internet) e com possibilidades de inúmeras variações. Com essas ideias na cabeça, você pode conduzir suas pesquisas de mercado em um patamar superior, buscando exatamente as respostas que precisa.
Um último ponto para não deixar passar despercebido: logo abaixo dos gráficos e da distribuição territorial, o Google Trends traz uma seção de buscas relacionadas. Elas são uma ótima fonte de insights para entender como seu público busca por seus produtos. E você, o que acha do Google Trends? Como você usa essas informações?