Trabalho com o Magento desde 2008 e posso dizer com total certeza que o ele é uma fonte inesgotável de alegrias e tristezas. Certamente, se cada um de nós que utiliza ou desenvolve em Magento fosse obrigado a construir uma plataforma do zero para cada cliente ou ainda assim se cada empresa construísse e mantivesse sua plataforma, muitos de nós não estaríamos na área e muitas lojas não teriam sido construídas.
A facilidade em obter o Magento e em poder contar com todas as funcionalidades que ele traz de maneira nativa foi decisiva para seu sucesso e – acho que posso dizer que – contribuiu muito com o e-commerce brasileiro nos últimos anos. Além disso, de 2012 pra cá, a oferta de módulos e temas para Magento fez com que inúmeras funcionalidades adicionais fossem exploradas, o que permite que projetos de pequeno e médio porte sejam atendidos sem nenhuma customização, apenas com módulos e temas disponíveis no mercado.
Ainda assim, constantemente sou confrontado com páginas na internet dizendo que o Magento não presta, que é uma ilusão, que não é confiável etc. Também atendo clientes que se arrependem amargamente de terem escolhido o Magento e que se pudessem voltariam atrás em suas escolhas, investindo melhor seu tempo e dinheiro. Por que há tantas pessoas reclamando do Magento se teoricamente ele é a melhor opção para micro e pequenas empresas? Por que o Magento dá tanto problema?
Começo a responder essa questão botando a culpa no outro lado: os lojistas! A primeira razão é que esses problemas dariam em qualquer plataforma mas acabando aparecendo com mais força porque o Magento é o mais usado. Os problemas vão desde a dificuldade na organização dos produtos e gestão dos pedidos até lojas caindo e com problemas nos meios de pagamento. A raiz do problema é a falta de preparo da maioria dos empreendedores virtuais, que começam a trabalhar em suas lojas apenas porque “ouviram falar que deteminado mercado dá dinheiro” e lançam-se em novas operações.
Daí a começar a enfrentrar problemas nas lojas virtuais é uma questão de tempo. Se não houver um planejamento bem feito de como a loja será operada e quais são os requisitos necessários, há grandes chances de que ela não esteja de acordo com o que o lojista precisará e os erros aparecerão no dia-a-dia da operação. Percebam que o planejamento bem feito é essencial e não quer dizer um plano extenso e complexo, mas o mínimo que um lojista precisa ter em mãos para começar a pensar em como será sua loja virtual.
Se pensarmos que há uma falta de preparo no lado dos lojistas, há uma falta de preparo no lado dos desenvolvedores. Aí, temos mais duas razões para tanto problema. Desenvolvedores não são gestores de negócios e apesar de uma parcela ter essa capacidade, a maioria dos desenvolvedores não está pronta para orientar lojistas sobre como o negócio deve ser estruturado. Com isso, muitas lojas são construídas com base em um “pacote mágico” de funcionalidades que muitas vezes nunca serão usadas, mas estão lá porque todos usam, aumentando o potencial de conflitos entre módulos. Há ainda a terceira razão que é o fato de muitos desenvolvedores lançarem-se a personalizar o Magento sem saberem com fazer, construindo códigos errados que depois terão que ser jogados no lixo. O mesmo ocorre com outras plataformas, como o Prestashop ou Woocommerce.
A quarta razão é uma questão conceitual. O Magento não é de graça! Ninguém é obrigado a dar nada de graça apenas porque é Magento. Instalação, customização, inclusão de produtos, criação de temas custam dinheiro e pior, não custam pouco. Por ter ouvido que o Magento é de graça, lojistas acham que não precisam de dinheiro para ter o mesmo Magento que a Dafiti um dia teve ou que com o Magento puro é possível construir o Submarino e a Netshoes. Quando são apresentados à conta, argumentam: “mas não era de graça?“.
Até aqui, só falamos de problemas que ocorreriam com qualquer plataforma. Mas sim, o Magento tem uma parcela grande de culpa nisso. O Magento dá muito problema no Brasil porque ele não foi oficialmente preparado para o Brasil.
O Magento é americano e foi pensado inicialmente na realidade americana. Posteriormente, ele foi adaptado à realidade europeia e funciona bem em outros mercados. Mas ele não é adaptado nativamente ao Brasil e não atende uma série de particularidades que temos aqui: regras de impostos, parcelamento de produtos diretamente com a loja, diferenciação entre pessoas físicas e jurídicas, possibilidade de pagar com dois cartões de crédito. Essas funcionalidades podem ser atendidas com módulos, mas é preciso cuidado para estruturá-los corretamente, de modo a evitar conflitos entre eles.
Além disso, o Magento pede uma hospedagem mais robusta, pois sozinho consome muitos recursos. É possível usar uma hospedagem compartilhada enquanto você é pequeno, mas se sua empresa começar a crescer, você precisará passar para uma VPS ou até mesmo um servidor dedicado. A qualidade desses serviços no Brasil é ruim e cara, o que leva a duas escolhas: sujeitar aos serviços brasileiros e pagar mais por isso ou buscar uma hospedagem fora e obter preços melhores mas suporte em inglês.
Há um boom entre os lojistas e desenvolvedores de que a melhor hospedagem é oferecida pela Amazon mas os lojistas descobrem tardiamente que a Amazon não dá suporte e que custa caro para empresas de pequeno porte. Quando eles descobrem isso, a culpa nunca é da Amazon, mas sempre do Magento.
Pra completar, como me disseram agora há pouco: “O Magento dá muito problema porque é o mais usado”. Se é a plataforma de comércio eletrônico líder, é claro que a base de usuários é muito maior e o número de problemas reflete isso. E você, o que tem feito para melhorar o mundo Magento?