Marketplaces - imagem: Matthias Tunger/Digital VisionHá pelo menos quatro anos escuto os clientes falando de shopping virtuais, espaços onde é possível concentrar diferentes lojas, de vários lojistas ou empresas, em um mesmo espaço. O mercado evoluiu e a moda agora é o marketplace, um único site que reúne lojistas da mesma área, como por exemplo roupas, calçados, artigos esportivos e tudo mais que se possa imaginar. Parece que o marketplace e suas gordas comissões aliadas à perspectiva de pouco trabalho são a nova fronteira. Todos querem ter um marketplace para chamar de seu.

A expectativa não poderia estar tão distante da realidade. Um marketplace dá mais trabalho que uma loja virtual comum e a série de pontos a serem definidos requerem três vezes mais planejamento e preparação. Sem falar que os custos para a implantação e viabilização de um marketplace são maiores que de uma loja virtual comum – há plataformas dedicadas ao modelo de marketplace cujas licenças passam de 150 mil dólares. Você quer um marketplace? Vamos aos pontos que envolvem esse novo negócio.

1) O desejo do mercado evoluiu, as ferramentas não

Quatro anos atrás, um pouco depois de o Magento ter sido lançado, haviam dois conceitos bastante procurados: o primeiro era a ideia de montar um serviço de locação de lojas virtuais, usando a ferramenta de multi-sites do Magento, para oferecer lojas separadas, cada um em seu endereço web e sem conexão entre elas. Esse modelo foi seguido por alguns provedores que oferecem lojas virtuais prontas, baseadas em Magento.

O segundo já era o precursor do marketplace atual, vendendo lojas virtuais a um preço mais baixo, utilizando uma instalação centralizada e cobrando por porcentagem do faturamento. O Magento Community permite abrir as múltiplas lojas mas não permite segmentar os gestores em áreas diferentes. E mesmo baseando suas lojas na Enterprise Edition, haviam conflitos entre os modelos de negócios, limitando a operação. Quando os potenciais clientes percebiam que a customização era muito cara, os projetos não seguiam adiante.

O mercado evoluiu e hoje os lojistas querem suas lojas próprias, com instalação única e exclusiva, para não ficarem atrelados a um provedor. Como falei em um post no começo desse ano, minha expectativa é que lojas menores não permaneçam com estrutura própria, já que o custo é muito alto e não deve diminuir. Em paralelo, o desejo do shopping virtual mudou de foco: agora a onda é um único endereço que concentre lojistas da mesma área, como complemento (ou até mesmo substituição) de sua loja virtual principal. Mas as ferramentas que temos para isso são basicamente as mesmas de quatro anos atrás e o que vem sendo desenvolvido deixa a desejar.

2) As ferramentas prontas não dão conta do recado

Basicamente, se você for construir um marketplace em cima do Magento terá duas opções de módulos: o da Unirgy e o da Webkul. Não testei o módulo da Webkul mas uma informação na lista de características do módulo já restringe seu mercado em mais da metade: ele não trabalha com produtos configuráveis. No Magento, os configuráveis são os produtos que permitem incluir a caixa de seleção, como tamanho e cor em uma camiseta ou a voltagem em um produto elétrico. Sem isso, é possível construir os produtos mas a apresentação fica pouco intuitiva e limita o crescimento do marketplace.

O módulo da Unirgy, por outro lado, é bem completo e permite customizações em um nível mais alto. Trabalhei no planejamento de dois marketplaces e pude acompanhar o desenvolvimento de um deles junto com nosso parceiro e posso dizer que infelizmente a plataforma ainda deixa a desejar, especialmente quando se pensa no mercado brasileiro. Há dois módulos que podem ser utilizados – o Unirgy uDropship e o Unirgy uMarketplace – e a impressão que passa é que as coisas foram empurradas para dentro à força, com configurações espalhadas por inúmeras páginas, sem uma ordem ou um processo lógico.

A documentação é nula, a intuição ficou de fora e pra que o módulo seja configurado é preciso ir adivinhando as coisas, quase farejando para descobrir a forma correta, em uma sequência interminável de tentativas e erros. O suporte do desenvolvedor é instável e consegue ser gentil e grosseiro na mesma medida. Pra completar, nativamente ele não está adaptado para o Brasil e é preciso fazer uma serie de correções e customizações, elevando bastante os custos iniciais.

Ainda durante a confecção desse post, foi lançado um novo módulo, pela Apptha. Não pude ir a fundo e portanto ainda não tenho uma opinião formada sobre ele.

3) Diferenças entre Marketplace e Dropship

Ainda há uma outra questão quando se fala na construção do marketplace: qual é o modelo que você adotará? Muitas pessoas estão confundindo marketplace com dropship. Marketplace é um espaço único onde vários lojistas são colocados lado a lado, compartilhando um espaço mas tendo suas próprias lojas e sendo responsáveis por elas. Já o Dropship é um esquema em que uma loja única trabalha diretamente com o estoque de seus fornecedores. Assim, toda a gestão dos produtos e atendimento ao cliente é feita pelo lojista, mas o produto é enviado pelo fornecedor diretamente ao cliente, sem passar pelo lojista.

São modelos diferentes e você deve definir qual será sua abordagem antes de fazer qualquer coisa. Os requisitos variam bastante: no Dropship, apenas o estoque é externo e o pagamento é feito pelo consumidor diretamente ao lojista enquanto no Marketplace, o pagamento deve ser destinado aos lojistas, ficando o dono do empreendimento apenas com o valor da comissão.

4) Buscando os fornecedores

Há uma ilusão de que basta abrir o marketplace para que os fornecedores façam fila em sua porta e queiram vender em seu shopping virtual. Infelizmente, no Brasil ainda estamos um ou dois estágios atrás e lojas virtuais simples ainda enfrentam sérios problemas de gestão. Não dá pra esperar que você pode apenas entregar o login e senha para o vendedor e ele fará todo o resto. Você precisará ser parceiro de seu vendedor desde o começo, analisando como ele pode ganhar dinheiro colocando seus produtos em sua loja, como ele deverá cadastrar, como será a gestão e a operação, que tipos de promoções poderão ser feitas e como será o atendimento ao consumidor.

Quando alguém compra em seu shopping virtual, você assume a responsabilidade solidária por aquela venda e mesmo que a transação seja entre o consumidor e o vendedor, é a sua marca e seu nome que estão em jogo, além da possibilidade de conquistar ou perder clientes. Quando você estiver buscando seus fornecedores e vendedores, tenha em mente que vocês serão parceiros no sucesso de seu marketplace e que todos os lados precisam ganhar.

5) Como fazer o recebimento das vendas

Há uma questão que merece atenção: como seu consumidor pagará pelas compras e como esse dinheiro transitará até os vendedores? Atualmente, apenas o Moip oferece uma solução para recebimento dos pedidos e envio do dinheiro diretamente ao vendedor e o PayPal já tem essa solução lá fora. Avalie com seu contador como isso pode ser feito para que você não tenha problemas futuros.

6) De quem é a responsabilidade pelas entregas?

Normalmente, a responsabilidade pelas entregas é do vendedor. Para isso, ele deve receber um e-mail com o pedido, os produtos comprados e os dados do comprador, além da confirmação do pagamento. Mas e se houver algum problema com o vendedor e ele não cumprir com a entrega? Ou se o consumidor se arrepender do pedido e solicitar a devolução e reembolso? Você deve prever essas situações e saber como agir, pois como disse antes, você terá responsabilidade solidária sobre a venda.

7) Você está pronto para gerenciar um marketplace?

E por último, você sabe gerenciar uma loja virtual isolada, única? Entende o processo de gestão de marketing, atendimento aos consumidores, organização e gestão do catálogo de produtos, como trabalhar com promoções e como gerenciar os pedidos? Você precisa dominar esses processos em uma loja isolada antes de pensar em gerenciar um marketplace, já que você precisará dar suporte a todos os lojistas que integrarem seu sistema.

Apesar do tom pessimista, não é essa a ideia: apenas gostaria que você refletisse e se preparasse antes de se lançar nessa empreitada. Sua saúde e seu bolso agradecerão.


André Gugliotti

André Gugliotti é uma das referências em Magento no Brasil, autor dos livros "Lojas Virtuais com Magento", "Temas em Magento" e "Módulos para Magento". Nesse blog, ele fala sobre e-commerce e marketing digital, ensinando como montar e gerenciar sua loja virtual.

10 Comments

Vinícius Barizon · 03/03/2015 at 23:04

Oi André, conseguiu ter mais informações sobre a Apptha?

Gustavo Alves · 11/03/2015 at 22:33

Andre, boa noite
parabéns pelo artigo, está me ajudando muito!
Você cita no artigo que o modulo da Webkul para marketplace não dispõe da funcionalidade ”produtos configuráveis”.

Entrando no site deles, está dizendo que o modulo oferece a funcionalidade. Então tenho umas perguntas…
Será que foi uma atualização do mudulo com essa melhoria?

Você indicaria esse modulo para construção de um marketplace no setor de moda?
Saberia me dizer se é possível integrar com gateway (ex:mundipagg) para intermediar vendas?

Moip é uma opcão viável para esse modulo?

Se puder me ajudar com essas perguntas, seria ótimo!

abraços,
Gustavo Alves

Andre Gugliotti · 16/03/2015 at 08:24

Olá, Gustavo, na época do post eles não tinham a funcionalidade de produtos configuráveis. Em relação aos meios de pagamento, é preciso a construção de um módulo próprio para isso e hoje apenas Moip e Gerencianet oferecem essa possibilidade.

Adrimath · 18/03/2015 at 12:26

Prezado André, boa noite.
Consigo ter Multi Lojas que tenham produtos comuns e alguns produtos específicos, com administração e nível de acesso ao painel diferenciado?
A ideia é fazer 02 lojas que tenham produtos iguais e ou individualizados, e que no anuncio do produto destaque quem será responsável pela venda e entrega, assim como o EXTRA tem feito como exemplos: Ar Condicionado (Multi Ar) e Pneus, onde ele indica que quem é responsável pela entrega e venda é o Parceiro.

Gustavo · 12/08/2015 at 10:32

Muito obrigado! foi esclarecedor…

abs

Hélder Emiliano de Souza · 25/08/2015 at 19:48

André Boa noite, você sabe se alguma empresa de pagamento ja esta fazendo o repasse automático da comissão para os revendedores ou se dentro do magento isto só pode ser feito pelo dono da loja principal pessoalmente?

Andre Gugliotti · 26/08/2015 at 08:02

O Moip e a Gerencianet fazem isso.

Mauro · 20/11/2015 at 10:32

Olá, tenho interesse num programa marketplace, nos moldes do Mercado Livre, com qualificações, etc. Onde consigo? Você sabe me informar?

Gustavo · 08/01/2016 at 08:32

Pessoal,
estive conversando com o pessoal da Mundipagg e hoje eles estão oferecendo a ferramenta de smartwallet, onde você faz o repasse dos valores para os lojistas dentro da plataforma deles. Só não sei se deve ser feito manualmente a cada período ou se oferecem alguma automatização da tarefa. Ainda não me responderam essa duvida! tendo noticias eu atualizo aqui… abs

Cuidados ao se trabalhar sem estoque | Blog do Magento, por André Gugliotti · 22/05/2014 at 14:00

[…] de ter falado sobre os marketplaces – e mostrar que eles podem ser feitos com Magento, mas que é preciso muito mais […]

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